sexta-feira, 5 de julho de 2019

Encarte de Canto

Chamamos de encarte de canto ao processo onde tentamos levar um pássaro a abandonar o canto com que foi vetorizado e passar a executar um canto diferente.

Esse processo é largamente empregado na aquisição de filhotes, pois em sua maioria foram vetorizados com um canto diferente do que esperamos que venham a executar em nosso convívio.

Esse processo apresenta pouco sucesso com a sonorização mecânica.

O termo encartar vem do jogo de cartas, em uma referência a sobreposição de umas sobre as outras.
Os Coleiros, como alguns outros pássaros canoros, na época da muda de penas, abandonam suas características territorialistas e passam a conviver em bandos nas áreas com alimentação mais abundante. Nesse tempo buscam integrar-se à comunidade, inclusive executando o canto predominante.

Essa característica é explorada no processo de encarte de canto.

Por exemplo: Um criatório com vários Coleiros cantando o Canto Regional, recebe um pássaro com Canto Tui tui Clássico, ou o inverso. Após a muda de penas o Coleiro com Canto Clássico, muito provavelmente, terá abandonado o seu dialeto e passará a executar o Canto Regional, por entendê-lo o canto da comunidade em que se encontra agora.

Há espécimes com grande facilidade para migrar para outro canto. São os conhecidos cabeça-mole. Há outros, no entanto, chamados de cabeça-dura que apesar da pressão dos demais pássaros continuam fiéis ao dialeto com que foram vetorizados.

Há, ainda, muitos casos de espécimes que apenas incluem ou perdem algumas notas nesse processo e outros que adquirem graves defeitos de canto.
VETORIZAÇÃO DO CANTO

Chamamos de vetorização o primeiro contato do filhote com o canto da espécie. Embora não haja embasamento científico para teoria exagerada de alguns criadores que afirmam que o início do aprendizado se dá com o filhote ainda no ovo, é certo que está ligado aos seus primeiro dias de vida, quando está totalmente receptivo. Também é certo que há uma predisposição genética ao aprendizado do canto, já que criadores que se dedicam à seleção de um plantel voltado para execução perfeita de determinado dialeto obtêm sucesso maior do que os que praticam cruzamentos aleatórios, mantidos procedimentos semelhantes no manejo da vetorização e encarte do canto.

Na natureza, o filho aprende com o pai e irá ensinar seus filhos no futuro. Esse é o meio mais eficiente de vetorização do canto. Na criação em cativeiro a coisa se complica, principalmente pela indisponibilidade de galadores com canto perfeito.

Pássaro mestre de canto

A melhor solução para vetorização do canto em cativeiro é o emprego de mestres de canto. Um pássaro mestre é ainda mais difícil de ser obtido que um galador de canto perfeito. Somente poderá ser mestre o pássaro que, além do canto perfeito, possua características especiais de temperamento. Um mestre nunca pode irritar-se com o canto dos filhotes, mantendo-se impassível na perfeita execução do seu canto, sem variar qualquer nota. Deve ser capaz de cantar com perfeição mesmo com a gaiola encostada a de outro macho. Não pode interromper seu canto para escutar o canto de um possível adversário. Não pode modificar seu canto por influência do pialado das fêmeas. Deve ter um mínimo de três ou quatro anos, tendo saído de todas as mudas de pena sem modificar seu canto. Poucos são os criatórios que possuem Coleiro mestres de canto clássico.

Isolamento Acústico

Pressuposto básico para a correta vetorização do canto. O filhote não pode ouvir o canto de outros pássaros, aí incluídos galadores com falhas no canto e fêmeas solteiras. Há quem afirme que o canto dos sabiás não influencia a vetorização de cantos de bicudos, mas aconselhamos não arriscar. Esse isolamento acústico requer facilidades de estrutura pouco comuns à maioria dos criatórios. São necessários, no mínimo, três ambientes acusticamente isolados. Um para galadores e fêmeas solteiras, um para fêmeas chocando ou alimentando filhotes e outro para treinamento de canto. Melhor seria se os filhotes nascidos fossem transferidos para outro ambiente, ainda juntos com a mãe, mantendo-se na sala de choco apenas as fêmeas chocando, em absoluta tranqüilidade. A presença de mestres de canto ou a sonorização da sala de choco costuma deixar as matrizes nervosas, sempre causando algum prejuízo à incubação.

Havendo disponibilidade do quarto ambiente, o melhor momento para a transferência dos filhotes é o 7º dia após o nascimento. Já teremos passado o evento do anilhamento e a fêmea já terá adquirido o ritmo no tratamento dos filhotes. Será então iniciado o processo de vetorização do canto. É importante destacar que não basta que o ambiente destinado à vetorização do canto seja acusticamente isolado, é importante que ofereça boas condições para a propagação do som. Paredes lisas tendem a refletir o som, causando reflexão (eco) e reverberação (permanência de ondas em um recinto limitado), incutindo distorções na vetorização. Os auto-falantes não devem estar virados diretamente para os pássaros, nem devem ser posicionados na parte superior. O som apresenta tendência a subir. O uso de cortinas ameniza bastante a reverberação.

Obs: Na natureza um pássaro não canta em tempo integral. Essa condição é fundamental no manejo do encarte de cantos. Para reproduzi-la em nossos criatórios é importante a utilização de um temporizador (timer) que regulará automaticamente os períodos em que será veiculado o canto e os intervalos de silencio ou acionamento de outra fonte sonora. O uso de uma fonte sonora alternativa para preenchimento dos intervalos de canto é apoio importante ao isolamento acústico. O som de uma rádio FM é bastante adequado, alternando fala e música, acostuma o pássaro aos sons típicos do convívio humano e evita que ouça cantos indesejados, oriundos do meio externo.

Manejo na vetorização

Os pássaros possuem uma sensibilidade superior a nossa para a percepção dos sons do ambiente. Se estivermos rodando a instrução de canto em um aparelho de som, por melhor qualidade que apresente, e o canto de outro pássaro invadir o isolamento acústico, esse canto roubará a atenção do filhote.

Os primeiros três meses de vida do filhote compreendem o período em que estará mais receptivo à assimilação do dialeto do canto. Após esse período entram em muda (muda de ninho) e ficam até cerca de seis meses meio refratários ao canto. Após os seis meses passam para a fase de maturação sexual, ficam mais territorialistas e se dedicam ao desenvolvimento do canto que possuem vetorizado. Essa fase segue até a próxima muda e é conhecida como fase da lapidação do canto. Passada a primeira muda de pardo, pouco poderá ser feito para corrigir um defeito de canto, embora não seja difícil estragá-lo no convívio com outros pássaros.


Fonte: www.cantoefibra.com.br